Valores, ética e o desejo de eternidade: Clóvis de Barros Filho provoca reflexões no XXV CBM
Após a palestra, a peça teatral “O Julgamento de Sócrates” aprofundou os questionamentos trazidos pelo professor


No segundo dia de programação científica do XXV Congresso Brasileiro da Magistratura (CBM), o professor doutor da ECA/USP e filósofo Clóvis de Barros Filho conduziu uma palestra instigante sobre “Valores: Moral, Ética e Felicidade”.
O professor deixou como provocação a necessidade de olhar para si mesmo, mais do que seguir fórmulas prontas, para alcançar a felicidade. Segundo Clóvis de Barros, a honestidade e a integridade, embora essenciais, não são suficientes para garantir uma vida plena. “A honestidade não nos protege de um luto, de uma doença ou de um acidente. Os valores morais e éticos caminham paralelos à vida, mas não asseguram a experiência da felicidade”, afirmou.
Ao longo da exposição, o professor destacou três dimensões que atravessam a vida humana: o desejo, que nunca nos abandona; o prazer, que se torna duradouro quando nasce do pensamento; e a autonomia, que exige coragem diante da angústia trazida pela liberdade.
Essas três forças se encontram na busca pela felicidade, que, para o filósofo, não é um estado contínuo, mas a intensidade de momentos singulares.
“Um instante de vida feliz é aquele tão bom que você não se importaria em vivê-lo eternamente. A vida boa é aquela que nos faz desejar a eternidade do instante vivido”, destacou Clóvis de Barros Filho.
Vida e Justiça
Em diálogo direto com a palestra, o espetáculo teatral “O Julgamento de Sócrates”, escrito e produzido pelo desembargador e ex-presidente da AMB, Régis de Oliveira, encerrou o segundo dia do Congresso.
A peça revive um dos episódios mais marcantes da filosofia: a condenação de Sócrates, acusado de corromper a juventude, não acreditar nos deuses de Atenas e introduzir novas divindades. Seu julgamento ocorreu em 399 a.C., diante de 501 jurados — 281 votaram pela condenação, e 220, pela absolvição.
“Uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”. Essa frase ‒ mencionada por Sócrates durante a peça e referenciada por Clóvis de Barros Filho em sua palestra ‒ demonstra como os questionamentos do grego ressoam até hoje.
A encenação acompanha o filósofo até seu último instante, quando, ao beber a cicuta, encontra a paz. Suas reflexões durante o espetáculo reforçam a sua filosofia: “Cuidem da alma, porque o corpo é uma armadilha”.
No palco, os atores Luiz Amorim, Priscila Camargo, Roberto Borenstein, Marcus Veríssimo, Priscilla Dieminger, Carlos de Niggro, Magnus Odilon, Breno Ganz e Nalini Menezes deram vida ao julgamento, sob a direção de Bruno Perillo.
O presidente do STF, ministro Edson Fachin, recém-empossado, acompanhou a apresentação com atenção. Ao final do espetáculo, o desembargador e autor Régis de Oliveira agradeceu à equipe e dirigiu-se ao ministro: “Que todas as bênçãos de todos os deuses recaiam sobre sua caminhada à frente da Justiça brasileira”.